sábado, 4 de julho de 2015

Enterrar os Machados (I)


Em 1759, um grupo de mercadores de Lisboa, do Porto e do Pernambuco  solicitam autorização à Coroa para estabelecer a “Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba”. Entre vários nomes encontramos Policarpo José Machado. 
Era ele filho de António Francisco Machado e de Valentina Franco da Mota, que terá nascido em Lisboa por volta de 1720. Casou em 1765 com Maria Luísa Albertoni, uma jovem que devia o seu "estranho" apelido a alguma costela italiana, sendo que a única pista da sua origem estrangeira” é a do avô materno Giovanni Francesco Jori, que aporteguesou o nome para João Jorge casado com Caterina Hebert. Consta que Giovanni nasceu e foi baptizado em Santa Maria da cidade de Horta (Novara, Milão).
A dita Companhia Geral do Pernambuco e Paraíba foi constituída com capitais próprios, sem participação da Fazenda real:
<Podia fabricar naus mercantis e de guerra nos estaleiros do Reino; cortar madeiras no distrito do Porto, em Alcácer do Sal e noutras matas, levantar gente de mar e de guerra para as guarnições a manter no Reino, nas Ilhas e nas capitais de Pernambuco e da Paraíba. Os seus navios só podiam ser recrutados para o serviço régio em caso de perigo na costa, barras e portos do Reino>.
Este Policarpo José Machado é nos anos de 1770 um abastado comerciante da praça de Lisboa, contratador geral de Tabaco. Em 1780 é também contratador das saboarias do Reino e Ultramar, juntamente com outros nomes como Anselmo José da Cruz, Luís Rodrigues Caldas e Geraldo Venceslau de Almeida Castelo Branco. A “licença” de exploração destas saboarias, por um período de 3 anos, custava 40 contos de réis pagos a fazenda real.

Terá sido destes conhecimentos e amizades dos negócios, que Policarpo José Machado casa o seu filho António Francisco Machado com a filha de Luís Rodrigues Caldas, D. Ana Maria Cleofa Pereira Caldas. Aliás, deve ter começado por aqui a longa tradição de casamentos entre primos.

(fonte ; geneall, páginas familiares)

Era D. Ana Maria Cleofa Pereira Caldas prima direita de Luís Pereira Velho Moscoso ( dos Pereiras Velhos de Moscoso, Senhores da Casa da Varjoeira junto a Monção), quem mandou edificar o palácio da Brejoeira, e que casou com a irmã de D. Ana Maria, a D. Luísa Maria Cleofa Pereia Caldas.

(Palácio da Brejoeira, fonte : Wikipédia)

<Cerca de 1806, Luís Pereira Velho de Moscoso deu início à construção do Palácio da Brejoeira, na freguesia de São Cipriano de Pinheiros. Com um custo total de 400.000.000 de réis, então um valor elevadíssimo, esta construção só foi possível por os antepassados do seu fundador terem conseguido no comércio uma grande fortuna. > 

Na geração seguinte, novamente uma série de casamentos entre os mesmos suspeitos. Parece ser clara a estratégia de manter na família, e se possível concentrar, o património. Policarpo José Machado, o neto, foi feito Visconde de Benagazil por D. Maria II em 1846, comerciante abastado de Lisboa, torna a casar com uma sua prima Pereira Caldas. O mesmo virá a suceder ao seu filho, também Policarpo José Machado (bisneto) que casa com uma prima, fruto também de uniões consanguíneas de apelidos Pereira Caldas Machado.
Parece pois não haver dúvida que a dispersão do património foi evitada e contrariada.

(Palácio do Caldas, fonte : CML)

Desta preocupação, ou casamento de Policarpo José Machado e D. Joana Francisca Rita Pereira Caldas Machado, nasceram 6 filhos, todos no Palácio do Caldas, que era pertença do avô materno António Pereira Caldas. Foram eles:
António Caldas Machado; Policarpo José Caldas Machado; Maria Assunção Caldas Machado; Joana Francisca Caldas Machado; Catarina Caldas Machado; Maria Madalena Caldas Machado.

Foram estes os últimos moradores do Palácio do Caldas, o do largo do mesmo nome ou melhor, actualmente Largo Adelino Amaro da Costa, Lisboa. Podia-se esperar encontrar a história destes irmãos, ou pelo menos do Palácio na net, mas curiosamente não há praticamente entradas para estes nomes. E porquê? Se por exemplo o aeroporto da Portela está implantado numa das suas quintas. Ou o Palácio dos Coruchéus em Lisboa também lhes pertencia. Não haverá um bloguista que ao tratar algum destes temas, tropece no nome deles? Será que estes irmãos não foram deliberadamente apagados, ou esquecidos com muito fervor?
(continua) 

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